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Professor, Músico, Audiófilo, Cientista Político, Jornalista, Escritor de 1968.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

YES, cristal, trovão e falastrismos

Quem primeiro me levou às cordilheiras de gelo onde a vida crepita, ao abismo onde muitas surpresas aguardam, às ruas onde as pessoas felizes e perfeitas simplesmente compartilhavam o mundo, a me sentir pequeno diante do cosmo imenso … tudo através da combinação harmoniosíssima dos graves, agudos intensamente vibrantes e mansamente sutis, calmos e impetuosos, que se transformam nisso, para, e se transforma naquilo e volta, opa, já não é mais a mesma coisa … foi o Yes. Voz de cristal, baixo de trovão colegas intensos e falastrões, exibicionismo explícito milimetricamente calculado por Anderson Squire.


É, poderia ter sido apenas mais um encontro casual no Soho em 1968, de dois rapazes com gostos e sentimentos comuns que gostavam de harmonia vocal. Talvez tenha sido um encontro casual mesmo. O caso foi criado entre a dupla: sempre juntos e comandando o rumo do barco, como uma outra pessoa que se forma quando juntos … tipo, casamento. Quem ouvir os primeiros solo de ambos, Fish Out of Water e Olias of Sunhillow, vai notar as semelhanças. Os temas se desenvolvem lentamente, como música erudita, sem pressa. As texturas vão se construindo com muito pé no chão pelo lado de Chris Squire (aquele baixo forte) e parecem flutuar com Jon Anderson, leve como uma pluma. Muitos instrumentos, camas de vocais, muitas, muitas idéias, sempre “positivas” (daí o nome? Pouco provável pois foi dado pelo primeiro guitarrista, Peter Banks).

Algum tempo depois já comandavam o ritmo e a evolução do progressivo que durou até 1975 e 76. Steve Howe sentava a mão na guitarra, a música mais sofisticada conquistava a cabeça dos jovens, fenômeno impulsionado pela expansão do fluxo de consciência do fim dos anos 60. O fim de uma era também. Disco e Punks vão se alastrar abafando o que foi feito no início dos 80. Quem conseguiu resistir, quem se amoldou ás novas tendências. Nos 90 o prog volta com tudo, pra ficar, como gênero definitivo e importante no Rock.


Para mim, tudo começou com Close To the Edge. A longa mudança permanente com a confirmação do início no fim. A Alteridade e o misticismo. Sorridente e forte o The Yes Album traz, com suas exibições de virtuosismo, belos arranjos vocais e muita mistura de Jazz, Blues, Erudito, e, claro, Rock'n Roll! No alerta à Fragilidade da vida, Fragile mostra a banda com um som estável e engordado por Rick Wakeman esmerilhando nos teclados. Esses temas são Imortais! South Side Of The Sky, Heart of The Sunrise, Long Distance Runaround e, claro, a obra-prima, Roundabout. Nunca foi tão perfeita a síntese entre prog e pop. Referência universal esta canção que passou a servir de modelo pra qualquer banda do gênero que quisesse fazer sucesso.


Milhões de imitadores, nem preciso dizer quem, são tantos. Não aparecem grupos mais tão originais assim no mundo de hoje, dentro do que chamamos Rock. Pra onde foi o Rock? Sim tem muita coisa boa ainda, mas será que pela quantidade é possível dizer pra onde vai? O Yes sabia pra onde ia e sabia que fazer música não era simplesmente brincar de fazer letras e compor melodias harmonizando com 3 ou 4 acordes. Não são muitas as canções, alguns não gostam, talvez. O que importa é que elas ficarão. Permanecerão com sua capacidade de transcender o presente nos lançando irremediavelmente em um passado onde já se vislumbrava o futuro: viver em paz com a natureza.


quarta-feira, 28 de julho de 2010

Anos Blues, Chicago em Porto Alegre


Quem me carregou pro meio deles foi o Álvaro Godolphim, grande saxofonista e meu brother, um dos melhores que eu já vi tocar. Iben Ribeiro como ele, gostava de rock desde pequeno, vizinhos na Vila dos Comerciários. Do mesmo povo era o Homero Luz, grande vocalista, Edu Nascimento, percussionista e batera, filho do músico Giba Giba, e Ângelo Metz, natural de Montenegro e aluno de Música da UFRGS. Tinha o Xandi, baixista, que estudava composição também na Federal.


Eu já tinha tocado com o Álvaro em algumas bandinhas quase de garagem, como o Fazendo Suspense, em que tocávamos só som instrumental. Depois levei ele pra Ópera Bufa. Fui um dia bem tarde da noite conhecer o Iben e fiquei batendo um papo até altas horas, curtindo um som setentão. Algum tempo depois eu soube que um povinho desses aí, menos o Ribeiro tinham formado um grupo chamado Ladrões Bolivianos. Chegaram a gravar umas faixas, com o Cláudio Joner, baixista lá de Santa Rosa.
Fui um dia na falecida sede da Terreira da Tribo na José do Patrocínio e escuto alguém tocando Rhythm'n Blues, e bem … chego pra olhar e quem vejo? Eric Clapton em pessoa! Não, melhor, Iben Ribeiro. Cara, o neguinho tocava muito! Com uma guitarra Luffing e um ampli Gianini ele não deixava nada a dever a nenhum outro guitarrista de Blues que eu tivesse ouvido em Poa. Saí curioso pra ver mais uma vez aquele cara que eu já conhecia, e que acho não tinha me reconhecido no dia.


Nessa época, as únicas coisas que eu tinha ouvido do Gênero em Porto foi o Moreirinha e Seus Suspiram Blues (presentes no Rock Garagem 1, histórica coletânea da primeira geração do Rock gaúcho) e, talvez Ecos Do Mississipi? Não lembro se eles já existiam. O Solon nem tinha largado a Prize e o baixo pra tocar guitarra. Acho que isso tudo foi entre 1988 e 89. Em 1990, eu entrei pra Ópera Bufa, voltei a ter atividades musicais, tava parado desde 1986. Meu baixo tava emprestado pro Alexandre Farina (que hoje é jornalista). Ele tava a fim de tocar guitarra e pediu pra eu assumir o contrabaixo. Acabei sabendo que o Iben tinha casado com a Rita Scheid, nova vocalista de sua banda de Blues, que se chamava Anos Blues, e que eles tavam fazendo um som Irado! Ela cantava como a Janis Joplin ou algo parecido. Eles foram assistir um ensaio da Ópera Bufa levados pelo Álvaro e acabaram levando um som, quase fazendo um show especial pra nós. Isso ocorreu na casa do Ronaldo, que trabalhava conosco na época tocando bateria. Tinha o Ênio Medina que tocava uma super gaita de boca e ainda um teclado.
Mais ou menos por esse período, o Godolfa levou eles pra assistir a Ópera Bufa no Porto de Elis. Tava uma corja lá. O show repercutiu bem. A gente tinha gravado umas músicas com o Homero como técnico de som que ficaram legais. Infelizmente, o grupo se desfez 6 meses depois pra ser, mais tarde recriado pelo seu fundador, o guitarrista André Piccinini.


Mais adiante ouvi falar através de uma conhecida que namorou o Ale, a jornalista Paola Oliveira, que o atual namorado dela e guitarrista Júlio Cascaes (que eu já tinha conhecido em uma festa tocando trompete!) tinha entrado na Banda do Iben. Ela me convidou pra assistir um show deles, não sei onde exatamente, acho que era num bar chamado Quarto Mundo que ficava na Ramiro Barcellos. A Rita tinha deixado o vocal assumido pelo Índio e aí era a formação clássica básica, com Iben e Homero dividindo os Vocais, Edu e Xandi na cozinha, o Pato, como era apelidado na época (Júlio) fazendo a segunda guitarra e slide (ele era um show à parte), acrescido pelo Paulo Lata Velha (sax tenor e barítono), casado com a Mirian Ribeiro, atriz e mãe de Iben. Ele dava um toque especial pro quinteto, fazendo linhas de sopro que acabaram se tranformando em base pra introdução de um naipe de sopros futuramente. O octeto clássico completava-se, quando era possível. Devido ao grande número de compromissos, apenas em shows para públicos maiores, completavam o naipe Chico Gomes (trompete) e Marcelo Figueiredo (Sax Tenor). Com esse time aí, eles tocaram por tudo em Porto Alegre, região metropolitana e até no interior, durante 2 ou 3 anos, ficando bem conhecidos. O repertório incluia Albert King, B.B. King, Freddie King, Muddy Waters, Howlin' Wolf, John Mayall, Elmore James, e, eventualmente, alguma composição própria ou rock sessentão como Beatles, Cream ou Stones. É claro, isso foi inspiração pra eu querer o ter coragem de formar bandas com estilo próximo a isso.


Fui e saí do show extasiado! Meu deus, que inveja, eu queria tocar em uma banda assim (por isso montei Os Cabeludos, he he, e depois a Crossed Fingers com o Júlio, quando ele deixou a Anos blues por desentendimentos com Iben). Eu tinha que fazer parte daquela banda, de alguma forma. Acabei, além de camarada e amigo, virando o Fotógrafo. Fiz tudo de graça, por pura camaradagem. Fiquei muito amigo do Homero, com quem, além dos Cabeludos, formaria um duo que durou 5 anos, Los Bucaneros. Acabei indo a muitos outros shows da banda e levando muitos outros amigos e amigas para assistir.
Eu já tava me enfronhando no baile com a Hora H e consegui shows em alguns bares para eles tocarem um blues. Fiz shows com Iben e Júlio juntos comigo e Homero em alguns lugares, na praia, em Esteio, Sapucaia, sei lá, foram tantos shows diferentes e malucos, misturando repertórios. Em um veraneio toda a patota ficou no ap dos Ribeiro em Tramandaí, fazendo um som e veraneando. Foi no famoso verão de 1992 onde iniciaram-se as atividades cabeludas. Eu morei ali quase dois meses, naquele ano.


Nessa época eles acabaram ficando amigos do Nei Lisboa, com quem até gravaram a canção O Bife. Entraram pra aquela série da RBS, Talentos do Sul. Um tempo depois, não me lembro bem porque, o grupo se desfez. Alguns anos depois, por minha amizade com aquele povo, finalmente realizei meu sonho: virei baixista e vocalista da Anos Blues, que tinha um repertório alternativo tocando clássicos do Rock dos anos 60 e 70, aí se chamava Volume Dez. Isso durou até 1998, quando resolvi encerrar minha participação profissional como músico e virei professor.
Ficou a amizade com a maioria dos citados, outros nunca mais vi, com uns poucos me desenterndi. Ficou a saudade de um tempo em que eu andava com uma galera que era a melhor banda de Blues de Porto Alegre. Ficou a saudade de um tempo onde o que era bom, fazia sucesso, tinha espaço e tocava no rádio.


1ª Formação – Iben Ribeiro (Guitarra e vocal), Edu Nascimento (Bateria), Rita Scheid (Vocal), Ênio Medina (Teclado e Harmônica), Bigode (Contrabaixo).

2ª Formação – Iben Ribeiro (Guitarra e Vocal), Homero Luz (Vocal), Julio Cascaes (Guitarra e Slide), Xândi Burnfelt (Contrabaixo), Edu Nascimento (Bateria).

3ª Formação – a mesma que a 2ª mais Paulo Lata Velha (Sax Tenor e Barítono), Chico Gomes (Trompete), Marcelo Figueiredo (Sax Tenor).

4ª Formação – a mesma sem Júlio Cascaes.

Formação final: Iben, Homero e Lawrence David (Baixo e Vocal), e Lorenzo Metz ou Leandro Aragão (Bateria).

Todos os envolvidos, que lerem, por favor deixem comentários corrigindo possíveis informações equivocadas. Conto com a colaboração, obrigado.

domingo, 25 de julho de 2010

Jimi Hendrix, o descobridor da Strat Mágica.

A maneira de combinar as notas, de transformar o suave em pesado, de solar enquanto faz o ritmo, de botar aquele dedão grosso como pestana e deixar os outros fazerem coisas quase impossíveis, as harmonias quase jazzísticas, os riffs certeiros e que ficam martelando na moringa, os climas psicodélicos, a voz quase falada às vezes, a dinâmica da experiência, o virtuosismo até nos bem agudos, o uso descontrolado dos efeitos dos paredões de Marshall saturados e do Cry-baby (wah-wah), é, tudo isso foi ele que inventou, nosso amigo aí acima, O Jimi.

Realmente eu não sei como é que pode alguém duvidar que esse rapaz jamais será superado, e olha que depois dele, vieram outros muitíssimo bons. Não é uma questão de qualidade apenas, mas, principalmente, de novidade e dimensão da guitarra elétrica na música. A partir dali um mundo de possibilidades surgiu. A guitarra sai da posição de tão importante quanto pra uma de mais importante que tudo. Não daria pra aparecer outros que tocassem guitarra pesado e sozinhos, se alguém não tivesse mostrado ao mundo do que uma guitarra era capaz. Aqueles sons, murmúrios, queixumes, súplicas, falas saiam de um único instrumento. “Não, não pode sair tudo de uma só Strat, me belisca que eu tô sonhando, esse cara não é real”, foi o que pensei quando ouvi o álbum Axis, Bold As Love pela primeira vez.


O mais paradoxal é que não foi uma das coisas que me bateram mais, logo que comecei a gostar de Rock. Tive que amadurecer um pouco para começar a curtir de verdade esse maluco. Ouvir a fundo, pra mim, é coisa recente, de pesquisar álbum por álbum, canção por canção, comparar as várias fases, e os parceiros diferentes. Em estúdio é bastante impressionante, mas aí, o cara vira muitos. O que mais me abestalha são suas performances ao vivo. Os sons eloquentes que ele tira até incendiando seu instrumento.



Nos improvisos ele se atrapalha, erra notas, porque sua mente imaginava coisas tão mirabolantes que a mão nem conseguia acompanhar. Sem jamais perder a elegância ele conversa com a plateia, rindo, um pouco tímido, exibido e sem parecer arrogante. Sincero e dedicado. Devoto de loucuras mil, aliás demais, que o acabaram matando, Jimi viveu intensamente cada um de seus momentos de um modo vertiginoso, quebrando barreiras sonoras a cada passo dado. Sem medo de arriscar, se cercou de experientes músicos de estúdio para produzir uma obra chave no continuum do Rock entre sua geração e a seguinte.


Completamente enlouquecido com o próprio espetáculo, depois de espancar a fera, tocá-la com os dentes, nas costas, com os pés, ele joga combustível e põe fogo na Strat e assiste estasiado, sua descoberta se transformar em madeira, metal e plástico carbonizados, enquanto ainda emite uivos, gritos de desespero, e sons nunca antes visitados. Joga pra galera, quem resiste a isso? Um hino e uma mensagem, “Não ao Vietnam”, metalóides que se transformam em bombas, honra que vira tragédia e piléria.

Havia algo de muito esquisito, ele não se enquadrava, não se encaixava nesse mundo, perdido entre a imaginação transbordante e a excessividade lisérgica, flutuou, um dia para longe, sufocado pela própria angustia de mostrar aquilo que nem ele realizava bem o que era. Talvez tão forte intenso como o amor, tão outsider como um cigano, ele foi à terra das mulheres elétricas olhar os primeiros raios do novo dia que surgia.


sexta-feira, 23 de julho de 2010

Os Beatles são o máximo

Essa sempre será a banda número 1 para mim, em tudo: composição, arranjo, gravação, vocais, produção, importância no contexto, não dá, o poder dos Beatles é incontestável. A primeira coisa que ouvi de Rock que me chamou a atenção. Que me provocou um sentimento de estar nos anos 60, de compartilhar aquele clima, aquela loucura, aquilo que é o âmago da música, mais que em qualquer outra época da nossa história recente.


Não há explicação meramente racional para The Beatles. Só pode ser mágica. É um encantamento que começa na infância dos personagens, que enfrentam muita solidão e são profundamente idealistas. Me identifico direto porque a vida deles era a música, como a minha. Cada vez tem menos gente que acha que a música é tão importante assim. Sabe o Joe's Garage do Zappa, a clássica ópera Rock onde a música se torna ilegal? Pois é, me sinto meio assim hoje em dia.

Ganhei toda a coleção de uma vez quando completei 13 anos em 1981. Ali, naquela noite, ouvi o Rubber Soul, o Please Please Me e o Sargent Pepper's inteiros de uma só vez. Não dava pra acreditar que um grupo fosse capaz de fazer tudo aquilo, era bom demais. Aquela noite ficou na minha memória indelevelmente para sempre. Decidi ser músico e aprender violão e contrabaixo porque gostava do Paul McCartney. Mas me achava mais parecido com o John Lennon.


O melhor de todos pra mim é o Revolver. Ouvi pela primeira vez quando tinha uns 6 ou 7 anos. Taxman, Eleanor Rigby e I'm Only Sleeping de uma só vez é pra matar. Aí vem Love You Too que dá uma relaxada pro lado oriental. Depois vem a bela Here, There And Everywhere e já vem a bizarra Yellow Submarine, que inspirou o desenho homônimo. Finaliza com She Said, She Said que fala das experiências com substãncias psicodélicas, uma marca da geração dos 60.

O otimismo de Good Day Sunshine é a cara de Paul. And Your Bird Can Sing mostra toda a agressividade de John no vocal e o talento de George com a duplicação de uma guitarra. For No One tem um tom existencialista romântico e Doctor Robert fala do famoso dentista londrino. I Want To Tell You é uma canção tensa de George e Got To Get You Into My Life traz um belo arranjo de naipe de metais. Para finalizar uma das canções que mudou a cara do Pop em todos os tempos, com seus efeitos sonoros, utilizações de gravações diferentes tocadas simultaneamente como se fossem instrumentos, seus vocais distorcidos, guitarras invertidas e uma letra de um surrealismo tântrico, Tomorrow Never Knows.


Foi o único album que a banda, que pararia de fazer turnês para sempre, gravaria naquele ano, 1966. Mas no ano seguinte fizeram Penny Lane e Strawberry Fields Forever e em seguida sua obra prima, o Sgt. Pepper's. Ainda gravaram o Álbum Branco, O Let It Be e o Abbey Road, além de terem feito mais um filme, depois de A Hard Day's Night e Help!, o Magical Mystery Tour, Clássico do Psicodelismo-Ópera Rock- Surrealismo.


Influenciaram Deus e todo mundo, não dá pra medir o alcance de sua obra que é imbatível em termos de vendagem, e suas canções são gravadas e regravadas sempre, em variadíssimos estilos, por músicos de todas as culturas e todos os estilos, ao longo desses 40 anos desde que o grupo acabou.

O John partiu tão cedo, e de uma forma tão estúpida … assassinado na porta da própria casa por um fã com problemas de personalidade. Quem conhecia bem o John sabia que ele era um gênio, incapaz de ser superado naquilo que há de mais profundo na música pop, no rock e na poesia, na originalidade e autenticidade. Ele foi um exemplo pela luta política, pelo amor á música e à arte antes de tudo, mesmo a mais vanguardista da vanguardas. Ele era um eterno inconformista, sempre buscando a essência de tudo em suas canções, sempre perseguindo a verdade obstinadamente, a de todos , sua verdade interna.

Paul era menos idealista e mais romântico, voltado pro lado introspectivo melódico, um pouco erudito e intelectual sensível. Mais talentoso que John nas harmonias e climas, mas menos ácido. As composições desses dois juntos estão no topo do equilíbrio de tudo o que se tem notícia na música. São obras eternas.


Ringo o Borrachão que chupava os coisa ruim do corpo dos vivente. Sempre amigão de todos, sempre salvando a pele dos desesperados com seus múltiplos apartamentos. George o esquecido, relegado injustamente a segundo plano, nunca se recuperou de ser um side-show. Posso, respeitosamente especular que sua morte teve alguma relação com esse fato, pode ter sido secundarizado.

A vida é dura, no cotidiano da gente. Trabalha-se muito e ganha-se pouco, é um mundo injusto. Mas, ainda bem que eu tenho os Beatles pra ouvir quando eu chego em casa.


THE BEATLES são: John Lennon (Guitarra rítmica e vocal), Paul MacCartney (Contrabaixo e Vocal), George Harrison (Guitarra Solo e Vocal), Ringo Starr (Bateria e Vocal).

ORIGEM: Liverpool Inglaterra, década de 60.

COLEÇÃO: mais de 10 álbuns originais, coletâneas de sucessos e por estilos, diversas masterizações, milhares de álbuns piratas. Todos os tipos de paródias, homenagens e regravações possíveis e imagináveis.


quinta-feira, 22 de julho de 2010

Os Cabeludos, O Rock renasce em Porto Alegre

Certo dia eles se encontraram e começaram a ensaiar. Na praia, pra suprir a demanda de grupos que tocassem Rock, coisa rara na época do início dos pagodes, funks, dance music e sertanejos na moda e outras oitentices decadentes. O bagulho era tocar Rock’n Roll e eles capricharam: Beatles, Rolling Stones, The Who, Eric Clapton. O Bar que queria os shows, lotara no ano anterior, 1991. Agora junto com a banda Ceres, integrada por Carlo Pianta e Biba Meira, remanescentes do De Falla, eles iriam incendiar as noites do Imbé, no Brodonhoca’s, que superbombou de novo em 92.

Três belas semanas de puro descanço e Rock’n Roll em Imbé City, morando na casa dos Irmãos Metz, Ângelo (Guitarra e Vocal) e Lorenzo (Bateria). Homero Luz (vocal) e Lawrence David (baixo e vocal) se lançavam na mais incerta e imprevisível jornada musical que um grupo de Rock, empreenderia no cenário de Porto Alegre até então.

Homero foi vocalista da Anos Blues, banda inovadora no cenário portoalegrense fazendo Rythm’n Blues no estilo Chicago. Lawrence integrou a Ópera Bufa e era músico de baile, enquanto Ângelo fazia faculdade de música e Lorenzo se iniciava na prática da bateria. Eram antes uma turma de amigos que tocavam as músicas de que gostavam.

Improvisavam sempre um repertório alternativo mais comercial. Até pagode, Jorge Benjor e carnaval tocaram. Foram provavelmente um dos primeiros grupos de Porto Alegre a conseguir uma mini-temporada como banda da casa na praia da Ferrugem próxima a Garopaba. No Show de Ano Novo 92-93, contaram com a presença do Robério, baixista do Camisa de Vênus, que veraneava ali desde muito cedo nos anos 80.

Em porto Alegre estrelaram muitas noites no Clube de Jazz, onde contavam com a canja eventual de Ianto Laitano, que formaria a Bilirrubina. Muitos músicos bons da noite viram o show e se encantaram com a performance dinâmica, que oscilava entre climas suaves e pesados, caprichando no virtuosismo instrumental, com todos os músicos cantando em ótimos arranjos vocais. A fama do grupo se espalhou e foram levados para o Da Vinci, bar da 24 de Outubro que abria, na onda do renascimento do Rock em 1992, impulsionada pelo fenômeno Nirvana, que, aliás, estava sempre no repertório dos Cabeludos.

A Apresentação, já com Lawrence tocando Fretless foi espetacular, deixaram todos boquiabertos e o dono de um estúdio onde a Pura Sangre ensaiava (banda que misturava TNT e Cascavelletes e teria o vocal de Homero) lhes deu o estúdio livre para que fizessem um repertório próprio. Com tudo na mão, aí estavam felizes. Uns dois dias depois, durante o que seria o primeiro encontro para preparar um disco, Ângelo e Lawrence se desentenderam por causa de uma bobagem em um arranjo de uma música – que não era grande coisa – que estavam fazendo. Ângelo deixou o estúdio dizendo que aquilo jamais daria certo, e foi o fim.

Eles até voltariam a se apresentar outras vezes, e até voltaram a trabalhar juntos em outros projetos, mas a chama cabeluda nunca mais voltou a brilhar.

PS: Queria agradecer o Fotógrafo Eduardo Aigner, único cara no mundo que fotografou Os cabeludos, autor das fotos aqui postadas.