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Professor, Músico, Audiófilo, Cientista Político, Jornalista, Escritor de 1968.

domingo, 14 de novembro de 2010

O Dia em que matei Paul McCartney


Eu não podia ter não ido ao show do Paul. Eu trai, desgraçadamente a mim mesmo.
Sou fiel. Nunca traio meu seres amados e amigos. Mas canso de trair a mim mesmo.



E fiquei de desculpinhas. Não, o cara era o John, o Paul era um espetáculo secundário. E ignorei o fato de suas interpretações de Little Richards tresloucarem as guriazinhas há 50 anos atrás. Aí também estava a Beatlemania. Mas realmente as composições mais contundentes e significativas são do Lennon. O cara era muito mais ácido e cortante e foi o pós-beatle que fez mais pelo mundo. Casou com uma artista de vanguarda e ainda por cima, japonesa. O paul foi o traíra enciumado que planejou a ruptura e só avisou os outros na hora em que quis pra lançar seu primeiro disco solo.
Mas ele aguentou a barra sozinho quando o suco de limão pirou com as drogas: LSD, estimulantes, até o poço fundo da heroína. O cara era doidão demais! Era necessário alguém mais pé no chão, que buscava simplicidade, romantismo e perfeição formal simultâneos pra segurar aquele trem desgovernado que foram os Fab Four no final. Sem Paul os Beatles não teriam durado tanto. (Mas ele tem que ter algo de ruim pra que eu possa não me importar não tê-lo visto em minha cidade natal!)



Ele praticamente conspirou pra tirar o Stu do grupo. Ele fez intriga? Quem não faria. O neguinho tocava mal e já era um grande artista plástico e eles, em 1961, ainda não eram quase nada a não ser uma das centenas de bandas de garotos pobres que queriam enriquecer com música. Ele já mexia melhor com os graves que qualquer um ali, e cantava de verdade.
Ele não tem tantas canções boas como seu irmão-oponente não fase pós. É verdade, elas foram esparsas e sua banda, o Wings, não era das mais interessantes, e amiúde foi ridicularizada pelos críticos que fatalmente o comparavam com os outros. Será? Tem as belíssimas Junk, Ev'ry Night e Baby I'm Amazed, isso só no primeiro album … Another Day, Too Many People, Jet, Band On The Run, Coming Up, Ebony And Ivory, Silly Love Songs, Mull Of Kintire, Live And let Die, só pra citar algumas.



 Também seria herege se o tirasse do meu coração pois isso tudo está envolvido de tal forma em meu ser desde menino, desde que o mundo é mundo e seus sentimentos se moldaram quase que em definitivo, que não dá. Quando a admiração chega a esse ponto temos que matar o ídolo. Deveria ter me endividado mais ainda, implorado aos conhecidos. Fiz apelos no Orkut pra que alguém me doasse o ingresso. Ironicamente, uma grande amiga, dois dias depois do 7 de Novembro, me comunicou que poderia ter me conseguido o ingresso, “da próxima vez ...”
É impossível! Perco uma parte de minha memória cada vez que me lembro. Não devia fazer isso comigo. O show tinha que ser de graça, ao ar livre, pruma multidão de 400 mil pessoas, num belo anfiteatro rodeado de árvores e com um lindo por-do-sol como só Porto Alegre tem. Espetáculos assim não podem ser propriedade de uns poucos. Ninguém tem esse direito, nem que seja um dos Beatles.