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Professor, Músico, Audiófilo, Cientista Político, Jornalista, Escritor de 1968.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Zappa e a rebelião da cidade dos idiotas.


Furei o Tinseltown Rebelion de tanto ouvir. Remaster digital e vinil ultra-flexível da Fonobrás, praticamente a última grande empresa a fabricar o petróleo pra distribuição nacional, mas sempre houve as nanicas. Gastei o meu, e acabei trocando por um importado norte-americano pouco tempo depois. Já tive duas vezes em CD. Era  o formato que chegaria no início dos anos 90 para ficar. 
Começa com Fine Girl, uma canção comercial? Acho que estava muito longe desse padrão em 1981 quando o álbum duplo foi lançado. É um funk disco bem suingado com baixo slap que conta a história de uma moça que é muito boa, e se submete a todas as regras da boa dona de casa, inclusive às sexuais (“all the way down”). Easy Meat é aquela faixa tipicamente cínica e machista, bem de Zappa, só o título, “Carne Fácil”, já diz tudo. No meio tem um solo que foi costurado, implantado aí por uma ponte instrumental precedida de uma parte sinfônica, executada por sintetizadores. Essas colagens de diferentes apresentações de uma mesma canção em uma só faixa foi uma técnica desenvolvida desde sempre pelo mestre, aparece com destaque em Friendly Little Finger de Zoot Allures e se materializa definitivamente na coleção You Can't Do That On Stage Anymore. 



As três faixas seguintes são românticas e duas consistem naquelas releituras que ele costumava fazer continuamente de sua própria obra que chamava de Project Object. E aí vem a surpresa, Panty Rap, uma coleta de calcinhas para uma exposição artística. As moças vão desvestindo e enviando ao palco com bilhetinhos que são lidos ao microfone com muita tiração de sarro dos integrantes da banda, no caso aqui é o excelente tecladista Tommy Mars. No início do Lado 2 do Vinil 1 um daqueles concursos de dança malucos que Zappa fazia pra ver quem da platéia, subindo ao palco em casais conseguia criar a coreografia mais interessante. Aí aparece um doidão e começa a dizer asneiras e babar no microfone …
Now You See It - Now You Don't é um solo de guitarra, mixolídio, em ritmo de reggae. Um momento simplesmente excelente, grande instrumental. A questão é, o que você vê, e daqui a pouco não vê mais?



The Blue Light, Tinseltown Rebelion, Pick Me I'm Clean e Bamboozled By Love são o lado mais contundente do álbum. Uma crítica ao consumismo, à crescente expansão da música descartável, um ser humano se vendendo e um homem violento, expressam o lado sociólogico de Zappa que sempre me atraiu. Aqui se faz crítica social como poucos artistas fizeram e com qualidade. Na trilha de liberdade criada por Dylan, o Frank vai fundo e desvenda a alma da sociedade ocidental, sem cair nos clichês, inventando sua própria forma de expressar as idéias, tanto no plano musical quanto lírico. E tudo termina com duas revisões perfeitas de grandes clássicos dessa obra magnífica: Brown Shoes Don't Make It e Peaches em Regalia. Uma ópera-rock em miniatura mostrando a vida de uma norte-americano médio em sete minutos e um clássico dos primórdios do Jazz-Rock, gênero que Zappa ajudou a criar e desenvolver e que foi uma constante em sua obra.



 De alma lavada pela audição repetida de Tiseltown me pus a pesquisar a discografia, a história do cara, e a revirar os brics em busca de um fora de catálogo ou importado para conhecer mais daquele universo que me era fascinante me absorvia pela riqueza. Expandi minha mente ouvindo isso. Recomendo a todos que tentem ouvir mais Zappa, mas creio que nem sempre é uma tarefa fácil pois o que ele tem de diferente – a oscilação constante entre diferentes tipos de música – não é algo facilmente assimilável, nem mesmo pra rockeiros. A quebra de padrões alternadamente, de faixa a faixa é um obstáculo ao ouvinte mediano que se deixa levar pela comodidade de algo mais simples que não lhe exija demais por ter apenas um suposto “estilo”. O fato é que o estilo-Zappa é não ter exatamente um padrão estético, mas eventualmente produzir obras tanto homogêneas quanto imensamente heterogêneas em termos de estilo.  



 Logo eu encontrei algumas cositas mas. Além dos que estavam em catálogo na época comecei a encontrar raridadezinhas. Antes disso o Sperk conseguiu comprar um Zoot Allures. Eu pensei, não, eu tenho que ouví-lo. Achei um nacional, com a capa meio balhada mas rodando bem e sem chiado, era uma boa edição com vinil grosso e duro da Warner. Nesse ano (1987) eu ainda consegui adquirir o Studio Tan e o Sleep Dirt brasileiros, em ótimo estado, álbuns que foram modificados pela gravadora quando Zappa pulou fora e criou seu próprio selo. Também pudera, eles faziam parte de um vinil quintuplo que ele pretendia lançar com o nome de Leather (couro), palavra que seria dita na capa por uma vaca! Gozação típica de Zappa, sarro no Pink Floyd, nos Punks e impertinência com a chefia dos negócios. Aí ele fundou uma gravadora própria, finalmente, a “Abóbora Uivante Gravações Limitada”...
Aí achei o We're Only In It For The Money importado original americano com o selo Verve azul da época (1968), paguei uma fortuna com a qual eu podia comprar 20 discos, mas, comecei a ouvir e ...

Esta postagem eu dedico à minha esposa e companheira Inezita Cunha pelas noites a fio ouvindo música juntos. Também dedico a Hamilton "Zip" Martins e Sergio Sperk pelo que me ensinaram sobre música e sobre o Mestre.