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Professor, Músico, Audiófilo, Cientista Político, Jornalista, Escritor de 1968.

domingo, 25 de julho de 2010

Jimi Hendrix, o descobridor da Strat Mágica.

A maneira de combinar as notas, de transformar o suave em pesado, de solar enquanto faz o ritmo, de botar aquele dedão grosso como pestana e deixar os outros fazerem coisas quase impossíveis, as harmonias quase jazzísticas, os riffs certeiros e que ficam martelando na moringa, os climas psicodélicos, a voz quase falada às vezes, a dinâmica da experiência, o virtuosismo até nos bem agudos, o uso descontrolado dos efeitos dos paredões de Marshall saturados e do Cry-baby (wah-wah), é, tudo isso foi ele que inventou, nosso amigo aí acima, O Jimi.

Realmente eu não sei como é que pode alguém duvidar que esse rapaz jamais será superado, e olha que depois dele, vieram outros muitíssimo bons. Não é uma questão de qualidade apenas, mas, principalmente, de novidade e dimensão da guitarra elétrica na música. A partir dali um mundo de possibilidades surgiu. A guitarra sai da posição de tão importante quanto pra uma de mais importante que tudo. Não daria pra aparecer outros que tocassem guitarra pesado e sozinhos, se alguém não tivesse mostrado ao mundo do que uma guitarra era capaz. Aqueles sons, murmúrios, queixumes, súplicas, falas saiam de um único instrumento. “Não, não pode sair tudo de uma só Strat, me belisca que eu tô sonhando, esse cara não é real”, foi o que pensei quando ouvi o álbum Axis, Bold As Love pela primeira vez.


O mais paradoxal é que não foi uma das coisas que me bateram mais, logo que comecei a gostar de Rock. Tive que amadurecer um pouco para começar a curtir de verdade esse maluco. Ouvir a fundo, pra mim, é coisa recente, de pesquisar álbum por álbum, canção por canção, comparar as várias fases, e os parceiros diferentes. Em estúdio é bastante impressionante, mas aí, o cara vira muitos. O que mais me abestalha são suas performances ao vivo. Os sons eloquentes que ele tira até incendiando seu instrumento.



Nos improvisos ele se atrapalha, erra notas, porque sua mente imaginava coisas tão mirabolantes que a mão nem conseguia acompanhar. Sem jamais perder a elegância ele conversa com a plateia, rindo, um pouco tímido, exibido e sem parecer arrogante. Sincero e dedicado. Devoto de loucuras mil, aliás demais, que o acabaram matando, Jimi viveu intensamente cada um de seus momentos de um modo vertiginoso, quebrando barreiras sonoras a cada passo dado. Sem medo de arriscar, se cercou de experientes músicos de estúdio para produzir uma obra chave no continuum do Rock entre sua geração e a seguinte.


Completamente enlouquecido com o próprio espetáculo, depois de espancar a fera, tocá-la com os dentes, nas costas, com os pés, ele joga combustível e põe fogo na Strat e assiste estasiado, sua descoberta se transformar em madeira, metal e plástico carbonizados, enquanto ainda emite uivos, gritos de desespero, e sons nunca antes visitados. Joga pra galera, quem resiste a isso? Um hino e uma mensagem, “Não ao Vietnam”, metalóides que se transformam em bombas, honra que vira tragédia e piléria.

Havia algo de muito esquisito, ele não se enquadrava, não se encaixava nesse mundo, perdido entre a imaginação transbordante e a excessividade lisérgica, flutuou, um dia para longe, sufocado pela própria angustia de mostrar aquilo que nem ele realizava bem o que era. Talvez tão forte intenso como o amor, tão outsider como um cigano, ele foi à terra das mulheres elétricas olhar os primeiros raios do novo dia que surgia.


4 comentários:

  1. Graaaaaaaaaaaande Lourenço El Daví!!!
    Caro amigo, seja, finalmente, bem vindo aonde você já deveria estar há muito tempo!
    Com muito prazer eu já mandei um link daqui lá n'O Pântano Elétrico, não só por todas as suas colaborações e por tudo mais, mas, principalmente, porque eu tinha certeza que encontraria aqui textos inteligentes, divertidos e totalmente fora do lugar-comum que encontramos por aí - e pelo que li, já sei que eu não poderia estar mais certo em minhas expectativas! Sensacional.
    Agora, meu camarada, bróder e colaborador, espero que possamos frequentar nossas casas com mais frequência!
    Boa sorte! Long live rock & roll!
    Abração!
    ML

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  2. Cumpadi, muito Obrigado! Tem algumas (poucas) pessoas responsáveis pela existência desse blog. Com certeza tu és uma delas. Por minha inusitada participação lá na tua casa, acabei inventando uma só pra mim. Não tenho baixado bosta nenhuma pois minha net é limitada. Mas quando conseguir fazer isso volto a postar algum comentário lá. Nem o ozric tent eu consegui ouvir direito ainda, e foi a última coisa que eu peguei lá do Pãntano. E a vidinha na Terra do tio sam como tá?
    Abraços pra ti, pros teus e pra Ludmila.

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  3. Finalmente consegui dar uma olhada,muito bom gostei muito da maneira como escreveu do hendrix e de todos os outros,aliás ouvi um pouco de King Crimson,nunca tinha ouvido,realmente extraordinario.
    Enfase na musica "purple haze" do jimi que mostra pela letra o quanto multi-dimensional era o mundo no qual ele vivia.

    um abaraço (andrei/padre reus)

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  4. Beleza cara, e vem por aí muito mais! Minha idéia de divulgar o blog para os alunos é para eles penetrarem no mundo da (verdadeira) música. espero poder contribuir para a formação dos estudantes. Que saiam um pouco desse negócio de pagode, funk e sertanejo ... Abraços.

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